Policentrismo, periferia e o lugar do cinema brasileiro no cinema mundial

Resumo

O objetivo deste texto é refletir sobre como a categoria “mundo”, aplicada ao cinema, se traduz no ambiente acadêmico e audiovisual brasileiro no século XXI, a partir de uma visão geral das principais teorias e conceitos relacionados à ideia de “cinema mundial/world cinema” no debate acadêmico em língua inglesa. Em termos gerais, a categoria “cinema mundial”, entendida como um rótulo de conveniência para designar filmes não produzidos nos EUA e na Europa, vem sendo rejeitada e ressignificada sob uma
perspectiva positiva e policêntrica, por meio de uma abordagem democrática e inclusiva, que rejeita a divisão binária entre centro e periferia (Nagib, 2006). Mais recentemente, esse debate se estendeu ao lugar do Brasil nas cartografias do cinema mundial, como visto, por exemplo, no XVI Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), organizado em São Paulo em 2012. O argumento a favor do policentrismo, que desempenhou um papel importante nos debates europeus e norte-americanos, entrou em contato, no Brasil, com uma longa e bem estabelecida tradição de crítica literária, iniciada com o trabalho de Antonio Candido na Universidade de São Paulo e levada adiante por Roberto Schwarz (2012), cujas influentes ideias se baseiam em um esquema binário no qual o Brasil está firmemente posicionado “na periferia do capitalismo”. Seria possível, então, abraçar uma abordagem policêntrica e a ideia de “cinema mundial” no Brasil hoje? E, mais precisamente, quais são as implicações políticas de abandonarmos nosso status periférico, libertando assim nossa compreensão das artes da referência constante e obrigatória às restrições do sistema econômico mundial?